quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A PARAIBA E SEUS HEROIS

Heróis e mitos da história paraibana
Ao longo de muitos anos a Paraíba embalou o culto a heróis de seu passado, o sangue dos mártires avivando a memória das pessoas. A memória e a paixão que envolveu o corpo do presidente João Pessoa do centro do Recife à capital paraibana para a veneração popular. E dali, em comoção crescente, singrou até o Rio de Janeiro, numa época em que o trem e o navio prolongaram o efeito da presença física do mártir, sacramentando ganhos políticos dos conspiradores de 1930. Assim, um governador de um estado insignificante, agigantou-se na onda da emoção nacional em torno das balas assassinas, o deputado mineiro Pinheiro Chagas a transplantar da França frases de efeito:
“Um homem como ele deveria ser enterrado de pé. De pé, como sempre viveu. De pé, como não vivem muitos dos seus algozes. De pé, como quis ser enterrado Clemenceau, com o coração acima do estômago e com a cabeça acima do coração”.
Desde então a história da Paraíba foi marcada com o fogo da paixão, o mártir da Revolução (embora contrário à derrubada violenta do governo) a servir de pretexto para a conquista do poder ao arrepio da lei, que João Pessoa, o juiz formalista, sempre procurou preservar. Conquistado o poder, o mártir fez-se escada para a ascensão de auxiliares que, estes sim, à sua sombra, conspiravam contra Washington Luiz.
A elite política e intelectual vitoriosa em 1930 edificou na Paraíba o culto ao heroísmo revolucionário. Adolescente em Cajazeiras não tive chance de conhecer nossa história que não fosse pela exaltação apaixonada do herói-mártir. Exaltação prolongada pela presença na cena nacional do herói-salvador, imantada na figura do ministro José Américo de Almeida que, no comando do Ministério de Viação e Obras Públicas retomou, na grande seca de 1932, as obras estruturadoras iniciadas no Nordeste por outro mito, o presidente Epitácio Pessoa, orgulho da “pequenina e heróica”, como nós mesmos nos referíamos à Paraíba, repetindo talvez sem saber expressão do grande chefe. Ou a ele atribuída.
Essas marcas, que povoaram minha adolescência, renovavam-se a cada dia 26 de julho, a Paraíba vestida de preto para reverenciar o presidente João Pessoa na data do seu sacrifício supremo, ofertado à causa revolucionária de 1930. Anos a fio, o desfile militar, de pracinhas da Segunda Guerra, de estudantes incorporou-se à rotina anual do 26 de julho, que exigia também discursos, palestras, conferências, tarefas escolares, enfim, tudo pontuado no culto ao herói.
E os fatos históricos? Os fatos serviam apenas para encaixá-los na moldura construída para entronizar mártires e heróis que a Paraíba ofereceu ao Brasil. Hoje não é mais assim. Um começo de ruptura despontou no final da década de 1970, quando, além dos murmúrios, emerge outra face da história, expressa em reedições de depoimentos, de memórias e versões de autores e personagens malsinados. Por que esse papo agora? Porque ando mergulhado em nossa história, revivendo mitos e heróis, cujos traços encontram-se esmaecidos a cada dia.

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